segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

Episódio do Vinho azedo no Luatex
Do  Camarada Jorge Henriques de Oliveira
 
 
   ver quem consegue  adquirir o precioso liquido)
Camaradas o Jorge Oliveira vai contar mais uma história real da nossa vida militar. Alguém se recorda desta nossa malandrice, para com os nativos? Como era hábito as secções eram rendidas, e estávamos no Luatex. Um determinado dia nós entramos, a outra saiu e deixou um resto de vinho num barril, já um bocado para o azedote. O grupo lembrou-se de um resto de açúcar que havia e misturou no vinho, para ele ficar com outro aroma. Metemos o barril em cima do carro e lá fomos para a sanzala, vender o vinho aos nativos. Eles ficaram um pouco desconfiados, mas compraram e depois de provarem todos quiseram vinho. O valor por litro era um soevo, quer 2.50. Todos queriam o vinho, era vê-los de panelas e alguidares para levar o dito cujo. Assim nos vimos livres do vinho e ainda ganhamos uns trocos para beber-mos umas cervejolas.
Nesta fotografia temos o grupo dos malandros, numa grande descontração a despacharem o material.
O 1º da direita é o Delgado – 2º  o Marques- 3º Mário Dias- 4º o Barateiro – 5º o Sequeira- 6º o Joaquim Costa – em cima do Carro e 7º Eu (Jorge Oliveira) com atenção ao negócio.- o 8º está de lado já não me recordo quem é.
Sem mais um abração para todos os camaradas do Jorge Oliveira.
 
 
Episódio do Vinho azedo no Luatex
Do  Camarada Jorge Henriques de Oliveira



 

terça-feira, 3 de dezembro de 2013


 
Dedicado aos meus netos, Inês, João Maria,Martim e Afonso.
  0 .Introdução
Adoptei o nome de Guerra Colonial, mas a designação oficial portuguesa do conflito é Guerra do Ultramar e a designação oficial Angolana é Guerra de Libertação ou Guerra da Independência de Angola.
Decidi-me por este tema porque a vivi intensamente durante dois anos, de 1966 a 1968.
Decidi-me por este tema em memória daqueles que tombaram em nome da Pátria ingloriamente e daqueles que ficaram altamente diminuídos nas suas capacidades físicas e/ou psíquicas.
Decidi-me por este tema, porque aos homens da minha geração foi-lhes incutido que Portugal era uma grande Nação e que não era qualquer grupo de libertação armado que nos venceria.
A Guerra Colonial de Angola iniciou-se em princípio de 1961 e durou até 1974. Estiveram em confronto as Forças Armadas Portuguesas e as forças organizadas pelos movimentos de Libertação (UPA, MPLA, FNLA e UNITA).
Os primeiros confrontos ocorreram em Luanda, com o ataque à prisão em Fevereiro de 1961 e os ataques às populações, independentemente da cor da pele, no norte de Angola em Março do mesmo ano.
Os Governos, primeiro de Salazar e depois de Marcelo Caetano, nunca quiseram admitir que esta guerra era uma questão política e não militar, porque todo o mundo estava contra esta situação e já tinha sido aprovado em Assembleia da ONU que se devia dar autonomia a todas as colónias.
Ambos os governos se regiam pelo lema “manda quem pode e obedece quem deve” e assim continuaram a enviar os jovens portugueses para a Guerra como se manda “carne para canhão”.
 Passados 45 anos, ainda hoje me recordo como se fosse ontem, quando o Praxedes, a quem entreguei a última ração de combate, foi o primeiro militar da minha companhia que morreu em combate. Também me recordo do dia em que o José Manuel Azeredo Pais saiu do quartel com o seu Grupo de Combate e me deu um abraço de despedida, dizendo que já não regressava vivo 28/03/1968, ia com o Seu Grupo de Combate executar um pressuposto reconhecimento, mas não era nada disso e Ele sabia bem que se tratava de uma cilada organizada pela pide por forma a acabar-lhe com a Vida e fazer crer ter sido em combate, Ele era pessoa incómoda para o regime de Salazar.
Ainda no dia anterior 27/03/1968, outro Grupo de Combate sofreu duas emboscadas levadas a cabo pelo inimigo em que perderam a Vida mais três Camaradas, O Celestino O Victor Manuel e O Cristo, mais uma série de feridos que lhe perdi a conta.
Tudo isto em troca de um balde de…. nada
              
Figura 1. Lápide em homenagem aos 4 mortos em combate da companhia no Norte de Angola.
O presente trabalho encontra-se dividido por secções que se iniciam com a recruta para a guerra colonial, seguido da secção que retrata o embarque no navio que transportou os jovens militares para Angola. De seguida, são afloradas as forças presentes nesta guerra e o seu início. Na secção que se segue, a operação Quissonde assume o protagonismo, seguida das Nações Unidas. Na secção seguinte, são retratados factos históricos relacionados com o fim da guerra colonial e, por último, é caracterizado o país Angola actualmente. Para terminar, é redigida uma pequena conclusão deste trabalho que inclui factos descritos e vividos na primeira pessoa bem como factos históricos.
1. A Recruta
Assentava-se praça numa qualquer unidade militar do País. Éramos recebidos com alguma frieza e depois de nos identificarmos, íamos ao armazém receber as respectivas fardas, de trabalho e passeio, e lá seguíamos para a camarata reconhecer a cama e o cacifo que nos tinham sido atribuídos. A mim tocou-me um quarto particular com 200 camas/camaradas. Também me recordo da famosa vacina que nos era aplicada: entravam 12 militares de cada vez, nus da cintura para cima, passava um militar/enfermeiro que desinfectava a zona da injecção, depois passava outro que espetava uma agulha, passava outro com uma grande seringa que aplicava a dose, passava outro, que retirava a agulha e por fim passava outro que desinfectava, dando-nos uma palmada nas costas informando-nos para sair porque já estavam mais 12 para entrar. Felizmente que no meu grupo ninguém desmaiou, mas no grupo anterior e no posterior ouve complicações com alguns desmaios.
No dia seguinte, alvorada às 7 horas da manhã a toque de clarinete, seguida do pequeno-almoço. Às 8 horas iniciávamos a aplicação militar, treino para quando acabássemos a recruta e a especialidade estivéssemos preparados para embarcar para a guerra...isto como se alguém alguma vez esteja preparado para ir para a guerra. O treino consistia na preparação física e psicológica.
Figura 2. Elementos da Cª Cavª 1535 em Treino psicológico.
Éramos treinados para fazer psico com os turras[1] e, simultaneamente, a matar. A seguir, frequentávamos a especialidade que, em termos físicos, não era tão violenta como a recruta. Mas não era pêra doce porque na minha especialidade fomos deixados em grupos de 4 militares numa serra que nunca soube onde é que fica, por volta da meia-noite, numa noite que nem luar havia, sem alimentos e água. Demorámos duas noites e um dia a chegar ao Quartel, exaustos mas felizes por chegarmos. Quando acabei a especialidade, entregaram-me uma guia de marcha para outra unidade que, após alguns dias, me apercebi ser a unidade mobilizadora. Esta unidade formou o batalhão e as respectivas companhias, 600 homens no total, após terem chegado para além dos atiradores, os especialistas: enfermeiros, condutores, mecânicos, transmissões, escriturários e cozinheiros.
Enquanto se formava o batalhão, realizavam-se todos os dias exercícios de treino militar, começando por um cross de uma hora seguida de treino no picadeiro da unidade, onde éramos obrigados a rastejar quase uma hora, nunca era menos de meia-hora onde a nossa farda ficava miseravelmente cheia de lama. Quando o batalhão se formou, fomos acampar, fazendo exercícios de treino de guerra de manhã, à tarde e à noite. Era como se já estivéssemos no campo de batalha, recebendo instruções como sobreviver no mato numa qualquer província ultramarina.
2. O Embarque
Após o regresso do treino do acampamento, eram-nos administradas as vacinas e recebíamos nova farda e camuflado. O batalhão estava pronto para seguir o seu destino. Antes, deram-nos uns dias de descanso para nos despedirmos da família e dos amigos e deram-nos uns míseros escudos de ajudas de custo. De regresso à unidade mobilizadora, assistimos à missa campal e o Comandante do Quartel entregou o Guião ao Comandante do Batalhão. Desfilámos ao som da música da Teresa Tarouca, “Sangue, suor e lágrimas”. Quando acabou o desfile lá fomos nós para a camarata arrumar os nossos haveres para depois subirmos para os camiões em direcção à estação de comboios. Viajámos durante a noite e chegámos à estação de Santa Apolónia em Lisboa ao amanhecer. Novamente, subimos para os camiões que nos levaram para o Cais de Embarque.
Aí, colocámos a nossa bagagem no local previamente estabelecido e fomos dar um abraço de despedida aos familiares e amigos que estavam presentes. Formatura para o respectivo desfile perante o General-Chefe das Forças Armadas Portuguesas, a Presidente do Movimento Nacional Feminino e o Presidente da Cruz Vermelha Portuguesa, ao som da música de Maria de Lurdes Tavares “Angola é nossa”.
Terminado o desfile, chegou o momento de embarque. Subimos as escadas do navio e fomos arrumar a nossa bagagem junto ao beliche que nos tinha sido atribuído. Estes beliches ficavam no porão do navio que tinha sido transformado em caserna. Voltámos ao convés, alguns camaradas treparam aos mastros para a última tentativa de dizer adeus aos familiares que era impossível ver, porque estavam apinhados nas varandas da gare marítima.
Por volta do meio-dia, a sirene apitou e o navio começou a afastar-se lentamente, passou debaixo da ponte Salazar e deslizou em direcção ao Atlântico.
Eram dadas instruções para o almoço, que era a primeira refeição a bordo. Com a saída do rio Tejo e entrada no Atlântico, o navio parecia que estava numa tempestade. Começou o enjoo que, em alguns militares, durou quase uma semana. Ao jantar, a maioria dos meus camaradas já não conseguiram comer.
Durante a viagem, que durou 12 dias, tiraram-se fotografias, jogámos às cartas e recebemos treinos diários, como nos comportar/sobreviver no mato.
Com a aproximação da chegada, que foi de manhã, arrumámos as malas e iniciou-se o desembarque. Formatura com um calor arrasador, um novo discurso e um novo desfile. Partida novamente em camiões para o campo militar Grafanil. A primeira noite fomos um petisco para os mosquitos. Havia militares que ficaram com o corpo quase em chaga, tantas eram as picadas dos famosos mosquitos, particularmente eu, porque a escala de serviço colocou-me como sargento de dia. Nessa noite dormi, o máximo uma hora com as mãos nos bolsos e quando acordei tinha os pulsos de tal ordem picados pelos mosquitos, que mais parecia que tinha uma pulseira (encarnada) em cada pulso.
Mas isto era apenas o início das dificuldades que a mudança de Continentes e das condições de vária ordem viria a provocar.
Passados poucos dias no citado Grafanil, local e Quartel que servia de entreposto à chegada e partida dos contingentes Militares que iniciavam ou terminavam as suas comissões de serviço, fomos enviados para a zona de guerra, calhou-nos Kicabo; onde ao fim de apenas 2 dias de permanencia me apareceu o corpo todo cheio de bolhas de água, ao verificar o meu estado fui logo à Enfermaria para saber o que poderia estar a provocar-me aquela anormalidade, foi-me dito tratar-se de um problema de alergia ao calor, recebi logo um primeiro tratamento, deram-me uma injecção pressuposto antídoto contra o meu problema, foi-me dito que levaria uma 2ª dose passados uns dias, mas a 1ª dose deixou-me vacinado, pois a que me administraram e a forma como ma aplicaram retirou-me a vontade de repetir, só pensar no que sofri ao darem-me aquela injecção, uma seringa enorme (mas que fez efeito, fez) aplicada por um Enfermeiro que na melhor das hipóteses foi formado em tão delicada área como é a saúde num espaço de 3 meses, período que durava a especialidade, deixa perceber a aptidão para exercer tão complexa actividade, não culpo os ditos Enfermeiros, faziam o que lhes era possível, mas ao falar de Enfermeiros não posso faze-lo sem referencia aos Enfermeiros-Maqueiros e na minha companhia haviam 2, estes bons Rapazes foram para o embarque com a especialidade de Atiradores sem nunca terem tido qualquer noção do que era dar uma injecção e num espaço de duas semanas com umas palestras sobre o tema, já estavam a ser Enfermeiros-Maqueiros e a aplicarem injecções na Rapaziada , isto era a metodologia Militar,  felizmente a 1ª dose resolveu o meu problema se levo a 2ª podia ser-me aplicada por um Maqueiro e aí ainda sofria mais.  
Permanecemos em Kicabo durante 6 meses de Maio a Outubro, no dia 2 de Novembro 1966 foi a minha Companhia tomar conta de outra localidade, Maria Fernanda, local bem conhecido nos meios Militares como sitio de alto risco. Aqui como responsável pela alimentação tive que enfrentar outras situações, este local ficava mais no interior norte e os acessos para reabastecimentos além do perigo constante ao longo da picada que ligava Kicabo à Maria Fernanda tinha ainda outro grau de dificuldade para ultrapassar, que era o mau estado da picada   especialmente na época das chuvas, em que era imprevisível quantos dias seriam necessários para fazer o trajecto, Maria Fernanda, kicabo e vice- versa, onde íamos buscar sob escolta o que se denominava como MVL para transporte da Logística necessária não só aos Militares mas também aos Fazendeiros da Margarido e Maria Fernanda
 
Figª 3. O Lamaçal da Picada entre a Maria Fernanda e Kicabo, Militares da 1535 a desatascar Viaturas
Como só através de Kicabo podíamos ser reabastecidos e os géneros alimentares eram fornecidos por conta peso e medida, para um determinado espaço de tempo quando as Colunas Militares demoravam muitos dias para fazer as necessárias viagens os alimentos em certas ocasiões aproximava-se da ruptura.
 
     Figura 4. Viatura Militar a tentar desatascar um camião civil inserido no MVL entre Kicabo e a Maria Fernanda
Mas numa dessas viagens os Activos que a fizeram com as várias contrariedades encontradas no percurso teve que demorar muito para além do que seria espectável e os alimentos para confeccionar a comida foram-se esgotando tendo que recorrer aquilo que se destinava como ultima reserva, Massa (Macarrão) e Salsichas que cortadas ás rodelas lá fazia uma refeição, mas tudo se acaba, a situação fica crítica, expus o problema ao Comandante de Compª pedindo-Lhe para emitir um alerta (S.O.S.) aos responsáveis em Luanda apelando à resolução do problema, O Capitão fez logo o alerta, foi então enviado por um avião conhecido como o Nordatlas um caixote contendo Carapaus, só que na Maria Fernanda não havia Pista de aterragem e o pessoal do avião resolveu e bem lançar o caixote dos carapaus com um pára-quedas na zona do pseudo campo  de futebol  ali existente, mas mesmo com o pára-quedas ao embater no chão o caixote abriu-se todo e foi ver os carapaus cheios de terra que era bastante solta, eu desiludido pelo estado em que vi ficar este bem alimentar, mas aqui ressaltou o espírito optimista dos Militares da 1535 viraram-se para mim e disseram Ó Furriel não tenha problemas, trabalho adiantado, já estão albardados é só fritá-los, ao ouvir isto o meu astral subiu e foi possível confeccionar a refeição; bom pessoal os elementos da Compª de Cavª 1535.
Na Maria Fernanda tínhamos ainda mais um problema a resolver no dia a dia para conseguir fazer as
refeições,a Água; 
Figura 5. Aspecto da cor da água que se obtinha num riacho na Maria Fernanda
era obtida num Riacho que passava relativamente perto, só que era tão barrenta  que obrigava os cozinheiros a fervê-la , deixa-la repousar e com cuidado mudá-la de recipiente, para assim obter uma melhoria na qualidade deste precioso liquido, na época das chuvas as dificuldades eram acrescidas porque a quantidade de barro existente na Água era tanto que de cada panela fervida só se conseguia aproveitar aproximadamente metade obrigando a ter que fazer esta operação muito mais vezes, mas os nossos Cozinheiros faziam este trabalho de bom grado, porque não ter que sair do aquartelamento como o tinham que fazer os Atiradores, Condutores, Telegrafistas ou Enfermeiros, era e Eles sabiam bem, um grande privilégio.                                                                               
3. As Forças dos Movimentos de Libertação
Portugal enfrentou um grande conjunto de movimentos rebeldes. Estas forças encontravam-se, no início, bastante fragmentadas, mas, melhoradas as relações entre si, revelaram-se mais sólidas e perigosas. Em Angola, no início da guerra, a principal oposição centrava-se em três movimentos nacionalistas. O primeiro era a União das  Populações de Angola (UPA) depois designada por Frente Nacional de Libertação de Angola (FNLA), com uma força activa de cerca de 6 200 homens com base no Congo ex-Belga. Este número não se modificou grandemente durante toda a guerra. O segundo era o Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA). O MPLA operou a partir de diversos locais até 1963, data em que se estabeleceu no Congo (Brazzaville), antigo Médio Congo da África Equatorial Francesa. O grosso das suas forças deslocou-se em 1966 para a Zâmbia, a fim de estabelecer uma frente leste e calcula-se que nela tenha tido 4 700 homens desde essa altura até 1974. Finalmente, havia o movimento dissidente da UPA/FNLA, a União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA), formado em 1966, com apenas 500 guerrilheiros (Cann, 2005).
4. O Início da Guerra
A 4 de Fevereiro de 1961, o assalto à prisão de Luanda pela MPLA levou a que houvesse um empenhamento militar português na repressão do movimento nacionalista angolano, e motivou uma reunião urgente do Conselho de Segurança da ONU que decorreu entre o dia 10 e 15 de Março de 1961. Terminou exactamente no dia em que se iniciou a sublevação no Norte de Angola, levada a cabo novamente pela UPA, com um massacre de brancos, pretos e mestiços, provocando um choque tremendo na população da metrópole.
Em 1961, a oposição portuguesa ainda não se manifestava, com excepção do Partido Comunista Português (PCP), em relação às províncias ultramarinas, pois as colónias formavam uma unidade política, sendo fácil ao Governo Salazarista mobilizar a população para a respectiva resposta.
Em Portugal a pressão para estabelecer o controlo absoluto nas colónias e desenvolver estruturas em territórios coloniais tornou-se parte dos programas políticos (Guimarães, 2001).
Os jovens com idade para ir para a tropa começaram a ser todos apurados, salvo aqueles que fugiram na aventura da emigração ou desertaram após incorporação: Lema de Salazar “A Pátria não se discute, defende-se”.

Figura 6. Movimentação e patrulhamento da companhia de Cavª 1535.
Em 14 de Dezembro de 1960, a Assembleia-Geral das Nações Unidas aprova, através da Resolução 1514 (XV), a chamada Declaração Anticolonista, à qual anexa, no dia seguinte, pela Resolução 1541 (XV), o Relatório dos Seis.
Este relatório, elaborado pelo Comité dos Seis, constituído por três potências administrantes (Holanda, Reino Unido e Estados Unidos) e por três não administrantes (Marrocos, México e Índia).
Na XVI Assembleia-Geral, realizada em Dezembro de 1961, foram aprovadas duas novas resoluções: por um lado, constituía-se o Comité Especial para os Territórios Administrados por Portugal (Comité dos Sete) e, por outro, a Assembleia-Geral reprovava “a repressão e acção armada desencadeadas contra o povo angolano”.
5.A Operação Quissonde
Iniciou-se em Maio de 1966, comandado pelo Tenente Coronel Alves Pereira mais conhecido em Angola como o Comandante Totobola.
Esta operação teve como finalidade construir uma picada[2] e uma ponte sobre o rio Dange para ligar a Missão á estrada principal Luanda Carmona passando pela Fazenda Maria Manuela.
A picada e a ponte foram construídas pela engenharia militar e protegida pelas companhias de combate. Todos os dias havia ataques dos turras porque esta picada ia passar junto a um aquartelamento e das fazendas onde eles trabalhavam para colher alimentos. Houve vários mortos e feridos, principalmente nas companhias que forneciam e transportavam os alimentos às companhias que estavam na frente de combate. Cada companhia fazia um mês e meio de comissão nesta operação.
Figura 7. Jovem militar em combate.
A minha companhia foi acampar num morro do outro lado do rio Dange, antes da ponte estar construída. A minha missão era mandar confeccionar comida para 450 pessoas. Os meus camaradas foram atacados várias vezes quando se deslocavam em protecção dos nativos que tinham sido contratados para destruir as terras de agricultura dos turras.
O nosso acampamento foi atacado só uma vez, à noite, no dia do jogo de Portugal-Brasil do Campeonato Mundial de Futebol que se realizou em Inglaterra em 1966.
Como nos começavam a faltar alimentos, eu fui enviado em missão no dia anterior, com o objectivo de expôr as nossas dificuldades ao aquartelamento do Comando da Operação Quissonde na fazenda Maria Manuela. Expus as dificuldades da falta de alimentos da minha companhia ao Comandante da Intendência e lá me deu autorização para requisitar a quantidade de alimentos que necessitava para poder levar no dia seguinte de manhã cedo na coluna de abastecimento. Nessa noite, adormeci debaixo de uma camioneta de caixa aberta porque o cacimbo era tão intenso que mais parecia chuva, ouvindo o relato do jogo Portugal-Brasil no meu pequeno rádio colado ao ouvido. No meio de tantas tristezas, lá tivemos uma alegria porque ganhámos ao Brasil por 3-1.
No dia seguinte, de manhã bem cedo parti na coluna que transportava o carregamento de alimentos e que era frequentemente atacada, não tendo sido nesse dia. Quando cheguei à margem do rio Dange, lá estava um camarada com o barquito pneumático para me transportar à outra margem juntamente com um bidão de 200 litros de azeite, que por pouco não fez entrar água no barco, tal era o excesso de peso. No entanto, esta era a única forma de passar os alimentos de uma margem para a outra do rio. Assim que cheguei junto dos meus camaradas de companhia, fui informado de que estiveram toda a noite debaixo de fogo. Foram atacados, mas felizmente, desta vez, não houve nem mortos nem feridos.
Figura 8. Jovem militar sentado à secretária a escrever á família.
6. A Organização das Nações Unidas
A Assembleia Geral das Nações Unidas aprovou em 14 de Dezembro de 1960, através da Resolução 1514 (XV), a chamada Declaração Anticolonista, anexando o Relatório dos Seis.
Este relatório, elaborado pelo Comité dos Seis, constituído por três potências administrativas (Holanda, Reino Unido e Estados Unidos da América) e por três não administrantes (Marrocos, México e Índia) debruçava-se sobre questões relacionadas com a definição de “território não autónomo” e condições de passagem de um território não autónomo a uma situação de “governo próprio”, previsos no artigo 73º da Carta das Nações Unidas.
Votaram contra o Relatório apenas Portugal, Espanha e África do Sul. Ainda em 15 de Dezembro de 1960 era aprovada a Resolução 1542 (XV) relativa aos territórios portugueses que a Assembleia Geral considerava não autónomos, enumerando-os e declarando a obrigação de Portugal prestar sobre eles as informações decorrentes do capítulo XI da Carta. Esta resolução que se constituía como a base de todo o relacionamento da ONU com Portugal até ao final da guerra foi aprovada por 68 votos contra 6, havendo 17 abstenções onde se incluiam os Estados Unidos da América e o Reino Unido.
A partir de 1961, a situação tornou-se ainda mais difícil para Portugal não só porque o novo Presidente dos EUA, John Kennedy, estabeleceu como um dos pilares da sua política externa o apoio às independências coloniais, mas também porque o início das hostilidades em Angola acabou por converter este território num dos centros da política africana.
7. O Fim da Guerra
O 25 de Abril de 1974 foi planeado e executado por militares dos três ramos das Forças Armadas Portuguesas. Uma nova geração de oficiais formados e criados na Guerra, levaria por diante, sob a direcção do MFA, um período revolucionário que transformou totalmente o Estado e a sociedade. Houve vários factores que contribuiram para esta Revolução, mas foi a Guerra Colonial apontada como o factor principal para a queda do Estado Novo.
O Programa do MFA, da responsabilidade da sua comissão coordenadora, apresentou de forma inequívoca a vontade de possibilitar a independência das colónias. Assim começou o processo de descolonização.
A aproximação dos três movimentos de Libertação (FNLA, MPLA, UNITA) constituía uma grande dificuldade para o governo português. Apesar das dificuldades, começaram-se a desenvolver conversações dirigidas especificamente a cada um dos movimentos. Inicialmente, com a FNLA, posteriormente com o MPLA e, finalmente, com a UNITA.
Assim se fez a descolonização de Angola com o Acordo final assinado em Alvor.
O Acordo do Alvor, assinado entre o governo potuguês e os três principais movimentos de libertação de Angola (MPLA, FNLA e UNITA), em Janeiro de 1975, em Alvor, no Algarve, estabeleceu os parâmetros para a partilha do poder na ex-colónia entre esses movimentos, após a concessão da independência de Angola.
Pouco tempo depois do Acordo assinado, os três movimentos envolveram-se num conflito armado pelo controlo do país e, em especial, da sua capital, Luanda, no que ficou conhecido como a Guerra Civil de Angola.
O modo como foi assinado o Acordo de Descolonização de Angola foi um fiasco porque os movimentos de libertação não se entenderam e provocaram a Guerra Civil que arruinou a serenidade do processo, agravando a situação interna com milhares de mortos (mais do que durante a Guerra Colonial) e a fuga dos portugueses que provocou em Portugal a invasão dos Retornados.
8. Angola Actual
Angola situa-se na costa atlântica sul da África Ocidental, entre a Namíbia e o Congo. Também faz fronteira com a República Democrática do Congo e a Zâmbia a oriente. Tem uma população estimada de 12 000 000 de habitantes, dos quais 3 milhões habitam na capital Luanda, com uma idade média de 19 anos. O território é constituído por 18 províncias, num total de 1 246 700 Km² de superfície, como uma extensão de fronteiras, marítimas de 1600 km e terrestres de 4873 km (Embaixada de Angola, 2010).
O país está dividido entre uma faixa costeira árida, que se estende desde a Namíbia praticamente até Luanda, um planalto húmido, uma savana seca no interior sul e sueste e uma floresta tropical no norte e Cabinda. O rio Zambeze e vários afluentes do rio Congo têm as suas nascentes em Angola. A faixa costeira é temperada pela corrente fria de Benguela, originando um clima semelhante ao da Costa do Perú ou Baixa Califórnia.
As altitudes variam bastante, encontrando-se as zonas mais interiores entre os 1000 e 2000 metros. As regiões do norte e Cabinda têm chuvas ao longo de quase todo o ano.
A maioria dos rios de Angola nasce no planalto do Bié e os principais são: Cuanza, Cubango e Cunene.
É uma antiga colónia portuguesa, colonizada no século XV e que assim permaneceu até à sua independência em 1975. Apesar de se localizar numa zona tropical, o país tem um clima que não é caracterizado por aquela condição, devido à confluência da corrente fria de Benguela ao longo da parte sul da Costa, ao relevo do interior e ao deserto do Namibe a sudeste. Assim, o clima de Angola é caracterizado por duas estações, a das chuvas de Outubro a Abril a do Cacimbo de Maio a Setembro, mais seca e com temperaturas mais baixas. Por outro lado, enquanto a orla costeira apresenta elevados índices de pluviosidade, que vão decrescendo de norte para sul, com temperaturas medias anuais acima dos 23ºc , a zona do interior pode ser dividida em 3 áreas: Norte, com grande pluviosidade e temperaturas altas; Planalto Central com uma estação estação seca e temperaturas médias da ordem dos 19ºc, e Sul com amplitudes térmicas bastante acentuadas devido à proximidade do deserto do Kalahai e à influência de massas de ar tropical.
A língua oficial é o português e as principais línguas nacionais são o Umbundu, Kimbundu, Kikondo e Tchokwe.
A população é na ordem dos 51% católica.
9. Conclusão
Portugal foi a primeira potência colonial a chegar a África e a última a sair. Enquanto outros estados europeus davam a independência às suas possessões africanas, Portugal decidiu ficar a lutar, apesar das poucas probabilidades de vir a ser bem sucedido.
O empenhamento de Portugal na defesa do Ultramar teve as suas origens na procura de uma renovada grandeza de épocas passadas, segundo a visão imperialista do governo de Salazar. As colónias africanas dos nossos dias foram na sua maioria um fardo económica e politicamente irregular até às vésperas das guerras, e até ao pós-Segunda Guerra Mundial apenas indicavam possibilidades de benefícios económicos substanciais (Cann, 2005).
A oposição política a Salazar não era tolerada nem na metrópole nem no ultramar. O aproveitamento de longa data das populações africanas de Portugal criaram uma insatisfação generalizada, sem perspectivas de qualquer saída. Era inevitável uma explosão contra a intransigência de Salazar perante as reivindicações da população africana (Cann, 2005).
Quando, em 1961, se deu essa explosão, os acontecimnetos em Angola, juntamente com o golpe frustrado, o isolamento das Nações Unidas e a queda de Goa, a situação criada levou Salazar a solidificar o empenhamento português na defesa das colónias e a preservar o seu regime. Este empenhamento nacional foi o reflexo de si próprio e da sua propensão para não tolerar qualquer oposição, particularmente por parte de movimentos nacionalistas e de elementos do seu próprio exército. Este sentimento era tão forte que desafiou qualquer voz da razão e impediu qualquer retirada ou acordo acerca dos assuntos africanos. As Forças Armadas e os recursos portugueses foram completamente empenhados, enquanto manifestação definitiva desta promessa de fazer funcionar o sistema colonial no conceito de império de Salazar (Cann, 2005). 
Com o 25 de Abril e a entrega precipitada aos Grupos de Libertação de Angola, que provocaram uma guerra civil onde morreram mais pessoas do que na Guerra do Ultramar, não houve respeito por todos aqueles que, como eu, fomos obrigados a deixar a família e o emprego para irmos lutar por uma causa que à partida estava perdida.
Sou contra as guerras e considero que o povo de Angola tinha toda a razão para lutar pela Independência do seu país, contudo, foi lamentável que a atitude do Governo de Salazar não tenha seguido o exemplo de França ou de Espanha.
Deixo este pequeno testemunho aos meus netos, para quando crescerem fiquem a saber que o avô foi obrigado a ir para uma guerra que não fazia sentido (como todas as guerras). Mas resta-me uma grande satisfação, como nunca fui atacado nunca contra ataquei. Penso que sou o único militar da 1535 que passou o tempo todo na companhia, que nunca foi atacado.  
Referências Bibliográficas
Cann, J. P. (2005). Contra-Subversão em África, 1961-1974. Ed. Prefácio: Lisboa.Embaixada de Angola (2009), [Online], Disponível através do site: http://www.embaixadadeangola.org/, [Último acesso: 20 de Março de 2010].
Guerra Colonial (2010), [Online], Disponível através do site: http://guerracolonial.org/index.php?content=115, [Último acesso: 18 de Março de 2010].
Guimarães, F. A. (2001). The Origins of the Angolan Civil War. Foreign Intervention and Domestic Political Conflict. Macmillan Press Ltd: Londres.
Wikipedia(2010), [Online], Disponível através do site: http://pt.wikipedia.org/wiki/Acordo_do_Alvor, [Último acesso: 18 de Abril de 2010].
UC (2010), Universidade de Coimbra - Centro de Documentação 25 de Abril, [Online], Disponível através do site: http://www1.ci.uc.pt/wikka.php?wakka=embarque, [Último acesso: 26 de Fevereiro de 2010].
 
 

[1] Eram os nativos que lutavam pela libertação de Angola.
[2] Estrada de terra batida.

sexta-feira, 4 de outubro de 2013

A 1535 e a Operação Kisonde.


 A 1535 e a Operação Kisonde.
 
Espero conseguir dar umas tecladas para narrar a operação de maior duração que a nossa Companhia efetuou, peço desde já desculpa por algo que saia menos bem, mas não possuo dotes de escritor.
Esta Operação denominada de Kissonde(nome de uma Formiga devastadora) foi uma operação com essa finalidade, devastar tudo que o inimigo possuía para alimento e abrigo, aos Militares que faziam o necessário combate juntava-se um grupo de Nativos que tinham como missão destruir todas as plantações com que o inimigo garantia a sua subsistência.
A Operação Kissonde tinha uma duração de 45 dias, penso que seria assim para todas as Companhias intervenientes, à nossa Companhia coube faze-la do principio de Julho a meados de Agosto de 1966, a nossa intervenção foi executada na margem direita do Rio Dange se não estou em erro entre O Pirri e A Cunha e Irmãos.
Saímos de Kicabo nosso Quartel viemos ao Caxito aqui entramos na estrada que ia para Ucua, Kitexe, passando á esquerda da Pedra Verde no sentido descrito e um não sei quantas Povoações situadas nas proximidades desta estrada eixo principal de ligação entre Luanda e Carmona, perto do Kitexe existia uma Fazenda denominada de Maria Manuela, foi nesta Fazenda que passa-mos um dia para dali e pela noite dentro fazermos a aproximação e consequente travessia do Rio Dange, esta travessia tinha que se fazer em barcos pois não existiam pontes, o barco um Pneumático dos Fuzileiros Navais, fez esse transbordo, a 1ª viagem foi só uma secção dos Fuzileiros que a fizeram com Remos e se instalou na margem do Rio atando uma corda á ponta do barco que assim podia ser puxado de uma margem para a outra sem fazer barulho, seguiu-se a travessia para a Nossa Companhia estes pneumáticos eram pequenos talvez levassem cerca de 15 pessoas de cada vez o que deve ter obrigado a mais de umas 10 travessias para colocar na margem do Rio todos os efetivos que iam executar esta Missão, estas travessias e como descrevi foram feitas no silencio da Noite, quando o pessoal estava todo na Margem direita do Rio os fuzileiros fizeram a travessia da sua secção para o ponto de partida e terminaram aí a sua Missão. Entretanto começava a amanhecer já nós tinha-mos ocupado um Morro a uns 100 metros da Margem do rio era um ponto mais elevado o que nos permitia uma melhor defesa e tínhamos o Rio por perto que nos permitia abastecer de água, logo que se começou a ver tratámos de arranjar o que se denominava de PI ou seja um tipo de acampamento em circulo por forma a dominar-mos bem este espaço no caso de ataques, cada secção encarregou-se de fazer o seu indispensável abrigo cavando a terra por forma a que servisse de defesa e de cama ao mesmo tempo, o colchão como se imaginará era o chão para nos tapar usava-mos os panos de tenda que cada um possuía para estas eventualidades, uma vez os necessários abrigos prontos passámos ao que ali nos levou a operação em si e vai de seguir para os objetivos que tínhamos que destruir, nos primeiros dias a Operação foi comandada pelo Coronel Totobola (é alcunha mas ele fazia questão de ser assim tratado) era um grande estratega Militar sabia colocar as forças necessárias no sitio certo por forma a poupar vidas, mas era um Homem incomodo a outros Comandos e por isso substituíram-no por um outro comandante da Operação pessoa a que nós Soldados pouco apreço demos Denominámo-Lo de O á Carga pois quando nos foi visitar ao PI para se apresentar como novo comandante de Operação ao chegar ao PI mandou 3 berros de à carga, na minha modesta qualidade de Praça bem como na dos meus camaradas não entendemos o significado de tal alocução, se era o grito de motivação perdeu o seu tempo pois a nossa motivação estava na Camaradagem e no esforço conjunto dos que fazíamos aquele sacrifício para executar tão difícil operação se possível sem qualquer baixa o que Graças A Deus foi possível.
Mas a partir de que a operação foi executada sobre as ordens deste novo comandante começaram a existir mais problemas provavelmente por deixar de existir um contingente de forças que operavam nas nossas alas e que encurralava o inimigo não lhe deixando espaço para se expor, sem essas forças no terreno o inimigo passou a ficar com campo para desferir os seus ataques, como estava-mos no meio da mata sem quartel por próximo para reabastecer, o material bélico ia-se reduzindo , e lembro-me de um ataque que o inimigo nos fez em determinado dia quando já estávamos de regresso ao PI após um dia de destruições e onde o inimigo tinha ocupado uma zona que lhe beneficiava as condições de ataque e ao qual nós só obteríamos resultados com o lançamento de Morteiros, Bazucas e Energas e lá enviamos todo esse fogo de que dispunha-mos mas tornou-se pouco e os tiros de espingarda seria só para gastar munições, foi então pedido pelo Alferes que Comandava a Companhia o apoio de uma secção de Morteiro pesado que estava estacionada no nosso PI com a finalidade de apoiar quando necessário, aqui o Oficial que estava a comandar e debaixo de fogo como todos nós deu as coordenadas corretas para onde nos deveriam mandar as respetivas Morteiradas essa secção de Morteiros iniciou o envio de tais projeteis com uma precisão absoluta só que cada morteirada ao fazer a propulsão provocava pequenos desvios na sapata de suporte do referido Morteiro e eis que por desvio da base 3 morteiradas veem cair sobre a nossa posição uma delas vinha no ar e apercebo-nos que me vinha atingir a mim ao Joaquim Marques e ao Xico Magalhães só tivemos tempo de mandar um autentico voo para junto de um tronco de árvore que estava caído na nossa frente e assim podemos os três escapar ilesos deste morteiro já a mesma sorte não tiveram os Nativos que nos acompanhavam pois como não possuíam treino Militar ficaram em pé expostos aos estilhaços de tais Morteiradas tendo uma série de feridos alguns em estado muito grave, tratou-se da evacuação desses feridos não sei se algum terá Falecido, mas as Morteiradas que caíram no sitio certo fês o inimigo levantar a emboscada e recolher ao seu refugio, assim nós conseguimos fazer o regresso ao PI para fazermos a ultima refeição e proceder ao necessário descanso, estes dias eram todos vividos com grande azafama a e intensidade percorremos grandes distancias entre o PI e os locais objetivo destruição creio que teremos ido da margem do rio até á famosa Cunha e Irmãos zona de grande implantação do inimigo, como não bastasse a azafama do dia durante a noite e em cada secção estava sempre um de vigilância quando um cumpria a sua hora logo chamava o que estava a dormir ao lado para que fizesse a sua parte de vigilante, fiz todas as noites a minha parte bem como todos os meus Camaradas depois era dormir naquela cama de terra batida mas o cansaço era tanto que até sobre pedras dormíamos , enquanto estávamos alerta na hora da vigilância e posso falar por mim muitos sustos passei porque na Mata havia animais que se movimentavam e em especial ali perto dum Rio os animais ao passarem faziam sempre algum barulho o problema era sentir o mexer de qualquer coisa e era necessário conter o medo e o nervosismo para não desatar-mos a dar tiros á toa, aqui vem á nossa mente será animal? ou inimigo a procurar aproximar-se? mas há que conter o medo e redobrar a atenção para procurar-mos acalmar e distinguir a situação, felizmente nesses 45 dias só uma vez tivemos problemas no PI foi creio que na noite do Portugal Brasil o inimigo deve ter pensado que nós pela euforia da vitória sobre o Brasil cometêssemos algum exagero e descurasse-mos a nossa defesa, bem se enganaram, levaram um tratamento que não tiveram mais vontade de repetir a experiencia, aliás a posição tinha sido bem escolhida e levaríamos sempre vantagem sobre o inimigo se ele tivesse essa ousadia, eles sabiam isso e lá fomos conseguindo passar os dias cumprindo a nossa missão como programada. Mas há sempre coisas negativas em operações com longa duração, a mesma roupa, as mesmas meias o mesmo calçado muito suor acumulado dum clima quente como é o Norte de Angola, proporcionava ao alojamento especialmente aos pés apanhar certo tipo de micróbios e como ao destruir cubatas entrava-mos nelas para averiguar da sua utilização pelo inimigo apanhávamos facilmente nos pés as chamadas Matacanhas um tipo de pulga minúscula que se alojava na pele dos pés e desenvolvia um tipo dum pequeno ovo de pele mole que rapidamente crescia, houve Camaradas que tinham mais de dez em cada pé, eu casualmente só apanhei duas no mesmo pé como já tinha apanhado com esta praga quando fomos para Kicabo e aqui tive que me socorrer dum Nativo para mas tirar pois os nossos Enfermeiros nem sabiam oque isso éra aprendi como proceder para retirar cada ovo sem que rasgasse a membrana deles porque aí a propagação seria pior e então vai de retirar as minhas e as de muitos Camaradas mas escusado é pensar tirar mais de dez em cada pé sem causar alguns danos na carne dos pés pois esta operação tinha que ser feita com a ponta de uma Navalha muito afiada e escavar na carne envolta do ovo para o retirar direito isto fazia com que ao ter muitas em cada pé quem as tinha ficava com os pés numa chaga e lembro-me de pelo menos dois Camaradas, O Sequeira e O Margalhau aquém tirei tantas que metia dó ver os seus pés, talvez por algum Superior ter alertado para este facto uns dias antes de acabarmos a missão foi um Médico ver-nos e deu-nos como incapazes de prosseguir a tarefa e então nos últimos 2 ou três dias não saímos para as destruições e ficamos no PI á espera do dia que estava destinado para os Fuzileiros Navais nos irem fazer o transporte de travessia do Rio para dali virmos á Fazenda Maria Manuela e podermos iniciar o regresso a Kicabo.
Peço desculpa pela falta de entrosamento no tempo e na forma da descrição mas não sei fazer melhor, agradeço a todas as possíveis correções aos que comigo viveram estas incidências.

domingo, 25 de agosto de 2013

Morto em Combate!

João Alfredo Santos, para mim o (Mecanico) que não esqueço


  • Manuel Silva vamos tentar manter estas imagens á frente
  • Manuel Silva não deixemos os nossos Heróis passarem a esquecidos

Morto em Combate!

O Amigo de Grupo Vitor Manuel Azevedo Castelo Branco numca esqueço, as suas faculdades de pintor, a Pintura que fez na Cantina da Maria Fernanda é algo que mercia um trato Especial


 
 
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    Manuel Do Souto Conseguio por o salao da maria fernanda, muito mais alegre
     
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    Joaquim Marques Foi um artista ao pintar aquela cantina,ou sala de jogos como queiram chamar parabéns e que ele esteja em paz e descanso.
     
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    Elisio Nunes pena não termos a foto da pintura da cantina era uma coisa excecional grande artista!!!!
     
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    Manuel Silva aproveito para fazer com que estes Heróis apareçam sempre nos primeiros lugar das nossas publicações
     
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    Manuel Do Souto Formidable pintura a lembrar a o D.Afonso Henriques.Quando começou,eu nao queria querer que iria tam longe naquele quadro.Mas quando terminou,qual foi a minha admiraçao.para sempre camarada
     
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    Manuel Silva prestemos-Lhe homenagem todos os dias