sábado, 4 de janeiro de 2014
sexta-feira, 3 de janeiro de 2014
Como vivi o último combate
Como vivi o último combate
27 Março 1968
Creio que teremos saído do Lumeje local do nosso aquartelamento no dia 25/03/1968, estávamos a um mês de deixar as lutas em terras de Angola para regressar à Metrópole e nas nossas mentes já só vivia a ilusão do dia em que iríamos embarcar no Navio Uíge para darmos outro rumo à vida uma vez libertos da máquina Militar que nos sonegou a possibilidade de na idade certa dar o rumo certo ás nossas opções profissionais e familiares.
como atrás referi teremos saído do quartel no dia 25/03/1968, saímos com a missão de executar um “golpe de mão” a um pressuposto reduto inimigo, fomos do Lumeje para o Luatex debaixo de uma chuva intensa próprio das chuvas tropicais, as viaturas não tinham qualquer resguarde e assim chegamos ao Luatex todos encharcados.
Luatex é uma pequena povoação onde a minha Companhia tinha sempre uma secção para dar protecção aos seus habitantes, distava cerca de 40 Km da nossa Base, aqui chegados já altas horas da noite teremos ficado até ao fim do dia seguinte 26/03 ficaram aqui as viaturas à guarda da secção ali estacionada, e, ao escurecer saímos do Luatex para fazer a caminhada a pé rumo ao destino que tínhamos para cumprir, foi uma longa caminhada mas era essa a opção certa para não sermos observados e assim atingir o reduto do inimigo ao romper do dia e no caso de encontrar-mos o que seria suposto poder exercer as acções que a conjuntura aconselhassem, mas no tal objectivo já nada se encontrou, apenas os Kimbos vazios de habitantes o que não era normal, isto já é algo que nos deixa desconfiados, mas é com esta situação que temos que lidar e assim voltamos a pôr pés ao caminho para regressar ao Luatex onde retomaríamos as viaturas para o regresso ao Lumeje, o que sucedeu com toda a normalidade, ocupamos os nossos lugares nos 3 Hanimogs que nos haviam levado para lá e assim iniciámos a viagem de regresso ao nosso Quartel, isto já na tarde do dia 27/03, passados poucos Kms. Da saída do Luatex apareceu-nos na picada um Nativo que circulava numa Bicicleta mas que ao aperceber-se da nossa aproximação fugiu entrando Mata adentro, nós parámos e fomos ao encontro dele para indagar do motivo que o levou a fugir, respondeu-nos que ia para a Lavra, deixou-nos sérias reservas pois transportava várias Panelas na Bicicleta, mas O Nosso Comandante de Grupo entendeu por bem e pela lógica da psico-social deixar o homem ir à vida dele, tudo seria normal não fosse o que a seguir nos esperava, regressámos ás viaturas e passado cerca de 1 km tínhamos uma Bifurcação de 2 picadas qualquer das opções servia pois as mesmas voltavam a juntar-se já muito perto dos Kimbos existentes na zona norte do Lumeje, por ordem antecipadamente dada na dita bifurcação optou-se pela picada da esquerda e aqui começaram os problemas, logo no inicio da picada pela qual foi optado e talvez porque nos espera-se pela outra picada, do meio da mata sai um “turra” com uma arma automática a enviar rajadas á primeira viatura, com a primeira rajada atingiu mortalmente o nosso Camarada Vítor M.A.Castelo Branco, da 2ª viatura logo foi feito fogo e este “turra” foi imediatamente abatido, pagou com a vida o ter tirado a vida do nosso Camarada de alcunha “O Diplomata” pela sua forma de ser, Deus Dê Paz Eterna á Sua Alma.
FALTA COLOCAR A FOTO
“O nosso Camarada Vítor Manuel Azevedo Castelo Branco” (para nós carinhosamente O Diplomata)
Como sempre se fazia ao 1º tiro tudo saltou das viaturas, o infeliz desenlace estava consumado restava ir junto do inimigo neutralizado retirar-lhe todo o equipamento que com
ele continha e recordo-me que para alem dum fardamento de boa qualidade possuía uma Espingarda automática Kalashnikov, (creio ser este o nome correcto) esta arma possuía 1 carregador que levava 100 balas, isto comparável com as nossas que apenas levavam 20 balas no carregador, o inimigo ficou lá para quem o quisesse levar.
Com tudo acalmado, se é que com um Camarada Morto ainda temos calma, mas lá se colocou na viatura o infeliz Vítor Manuel, nada por Ele se podia fazer, por ordem do nosso Superior Um Homem com “H” muito grande, estou a omitir o Nome para não ferir susceptibilidades, reiniciamos a marcha rumo ao Lumeje, O nosso Comandante de Grupo entendeu e muito bem que os atiradores fizessem o percurso durante cerca de, 1 Km. metidos pela mata dentro de um e outro lado da picada protegendo assim as viaturas e a nós próprios de qualquer acto do inimigo, após termos batido a zona nessa distância foi ordenado o regresso dos atiradores ás viaturas para prosseguir a viagem, pois era urgente regressar ao Quartel, mas o pior aconteceu, já nas proximidades do Lumeje onde as duas picadas votavam a fazer a junção (Bifurcação) o inimigo cobardemente escondido com abrigos de protecção e que lhe permitia atingir-nos qualquer que fosse a picada porque optássemos desferiu-nos uma forte emboscada levada a efeito com um simultâneo forte tiroteio e o lançamento de granadas defensivas que de imediato nos causou várias baixas pois nós vínhamos expostos em viaturas, esse tiroteio inicial causou imediatamente a Morte ao Celestino do Carmo Pereira e ao Joaquim José Capela de Cristo.
FALTA COLOCAR A FOTO
“Os dois Camaradas que perderam a vida ao primeiros tiros do inimigo, O Celestino e O Cristo”
Como nosso dever ao primeiro tiro todos saltámos das viaturas só que a violência do 1º fogo inimigo além destas duas vidas já tinha causado uma série de feridos que lhe perdi a conta entre eles estava eu cheio de estilhaços das ditas granadas e recordo-me de alguns camaradas em muito mau estado o pior seria o Botas que viria a ter uma vida com pouca saúde devido ás sequelas sofridas, faleceu vai fazer 2 anos 12/05/2012, Paz á Sua Alma, como relatava haviam vários feridos entre os quais recordo O Condutor, Laurindo Ferreira Moita que ao
FALTAM AS FOTOS
“No hospital a recuperar das mazelas sofridas em combate O Laurindo Ferreira Moita e Joaquim Nogueira Marques”
Saltar do Hanimog que conduzia foi alvejado com um tiro na perna esquerda e que teve de se proteger junto da viatura pois não tinha possibilidade de ajudar a retaliar o inimigo penso que o nosso Alferes que comandava o grupo também terá levado com uns estilhaços, mas era de uma capacidade extraordinária, não se deixava abater perante as dificuldades e com esse seu espírito incutia-nos a necessária capacidade para não nos irmos abaixo, grande Comandante de Grupo, Ele sabe que no 1º grupo todos os subordinados O admiravam pela sua capacidade de comando e sentido Humano. Eu primeiro fui para o Hospital do Luso e posteriormente transferido para Luanda, os restantes Camaradas feridos não sei para onde foram encaminhados, certo é que donde quer que estavam tiveram depois a felicidade de dia 2/05/68 dizer Adeus Angola vamos pró puto e regressar no Navio Uige.
Não vou terminar sem antes fazer um comentário que na minha opinião contraria certos Srs. que tenho ouvido dizer que a guerra em Angola estava ganha, que o inimigo se encontrava desmantelado. ou é por ignorância ou para depreciar aqueles que como nós combatíamos noite e dia no interior da mata para que nas Vilas ou Cidades dormissem descansados, baseio esta minha opinião naquilo que descrevi como arma utilizada pelo inimigo, espingarda automática Kalashnikov,(a melhor arma automática fabricada até hoje) Granadas defensivas, Morteiros com que nos atacaram no Kiembo de Zala e já uma certa estratégia de combate que certamente não possuíam em 1961 que uzavam o Canhangul, as Zagais as Catanas e outros objectos de fabrico rudimentar. Só escrevi este parágrafo porque me custa ouvir comentários de quem provavelmente desconhecia a realidade e atiram palpites sem cuidarem da imagem de quem passou por tão grandes dificuldades .
Joaquim Nogueira Marques
Vinho Azedo
Episódio do Vinho azedo no Luatex
Do Camarada Jorge Henriques de Oliveira
FALTA A FOTOGRAFIA
(é só ver quem consegue adquirir o precioso liquido)
Camaradas o Jorge Oliveira vai contar mais uma história real da nossa vida militar. Alguém se recorda desta nossa malandrice, para com os nativos? Como era hábito as secções eram rendidas, e estávamos no Luatex. Um determinado dia nós entramos, a outra saiu e deixou um resto de vinho num barril, já um bocado para o azedote. O grupo lembrou-se de um resto de açúcar que havia e misturou no vinho, para ele ficar com outro aroma. Metemos o barril em cima do carro e lá fomos para a sanzala, vender o vinho aos nativos. Eles ficaram um pouco desconfiados, mas compraram e depois de provarem todos quiseram vinho. O valor por litro era um soevo, quer 2.50. Todos queriam o vinho, era vê-los de panelas e alguidares para levar o dito cujo. Assim nos vimos livres do vinho e ainda ganhamos uns trocos para beber-mos umas cervejolas.
Nesta fotografia temos o grupo dos malandros, numa grande descontração a despacharem o material.
O 1º da direita é o Delgado – 2º o Marques- 3º Mário Dias- 4º o Barateiro – 5º o Sequeira- 6º o Joaquim Costa – em cima do Carro e 7º Eu (Jorge Oliveira) com atenção ao negócio.- o 8º está de lado já não me recordo quem é.
Sem mais um abração para todos os camaradas do Jorge Oliveira.
Do Camarada Jorge Henriques de Oliveira
FALTA A FOTOGRAFIA
(é só ver quem consegue adquirir o precioso liquido)
Camaradas o Jorge Oliveira vai contar mais uma história real da nossa vida militar. Alguém se recorda desta nossa malandrice, para com os nativos? Como era hábito as secções eram rendidas, e estávamos no Luatex. Um determinado dia nós entramos, a outra saiu e deixou um resto de vinho num barril, já um bocado para o azedote. O grupo lembrou-se de um resto de açúcar que havia e misturou no vinho, para ele ficar com outro aroma. Metemos o barril em cima do carro e lá fomos para a sanzala, vender o vinho aos nativos. Eles ficaram um pouco desconfiados, mas compraram e depois de provarem todos quiseram vinho. O valor por litro era um soevo, quer 2.50. Todos queriam o vinho, era vê-los de panelas e alguidares para levar o dito cujo. Assim nos vimos livres do vinho e ainda ganhamos uns trocos para beber-mos umas cervejolas.
Nesta fotografia temos o grupo dos malandros, numa grande descontração a despacharem o material.
O 1º da direita é o Delgado – 2º o Marques- 3º Mário Dias- 4º o Barateiro – 5º o Sequeira- 6º o Joaquim Costa – em cima do Carro e 7º Eu (Jorge Oliveira) com atenção ao negócio.- o 8º está de lado já não me recordo quem é.
Sem mais um abração para todos os camaradas do Jorge Oliveira.
quinta-feira, 2 de janeiro de 2014
Emboscada na Cameia
Emboscada na Cameia
7/09 1967.
O Zé Manuel no Hospital do Luso a recuperar das mazelas sofridas em combate
Após regressar ao quartel logo fui destacado para o Cassai.
Devido á escassez de efectivos, sou solicitado pelo nosso Comandante para engrossar uma secção destacada para o Cassai, com a missão de dar segurança ao chefe da estação, por haver rumores de possíveis ataques…e assim continuar a dar a minha colaboração activa à Compª de Cavª 1535.
7/09 1967.
Dia da Nossa Senhora do Castelo, padroeira de Mangualde, dia memorável fazia precisamente quatro anos que tinha embarcado no Navio Niassa com destino a Angola, nestas circunstâncias há sempre um motivo para festejar recorrendo ás cucas, no entanto a minha alegria era subjectiva e com pouca disposição para celebrar eventos, dado á larga e longa permanência por terras de África, deambulava pela parada, com o destino á cantina e, eis que o nosso Comandante me interpela, ordenando-me a ser integrado num grupo de combate com a missão de visionar uma sanzala na região da reserva nacional da Cameia, (reserva nacional de caça, embelezada pelo Lago Dilôlo) situada entre Lumeje e Teixeira de Sousa, esta a fazer fronteira com o Zaire e guarnecida pela outra companhia do nosso batalhão. Constava-se ali a proliferação do IN. Antes zonas sossegadas, consideradas zonas descanso, na altura territórios em disputa pela UNITA e MPLA, era suposto os batalhões fazerem metade da comissão em zona de guerra caso do norte e este batalhão levou com a região dos Dembos Zona Militar D. onde perderam bastantes efectivos, onde levaram muita porrada. Quando foram acantonados na Região Militar Leste, pensavam e muito bem irem fazer o resto da comissão em zona de descanso, saiu-lhes o tiro pela culatra, mereciam melhor sorte a sorte era o tal factor importante, mata ou morro eis a questão.
Chegamos ao kimbo, avistavam-se fogueiras ainda em lume, vários animais domésticos, como: galinhas e cabritos, sinais que havia vida, as cubatas estavam desabitadas era costume ver-se Bikes, e a malta até se apoderavam de algumas...e máquinas de costura, era suposto que os habitantes estariam por próximo, ao aperceberem-se da nossa visita, abandonaram a sanzala, pois dado á grande planície era visível qualquer movimento á longa distância feito por o roncar dos motores dos Unimogs, e a poeirada levantada por seus rodados.
Não sei de onde partiu a ordem, de incendiar as cubatas, ou por ordens superiores ou por mera retaliação da malta, só me apercebi, quando já as chamas invadiam o aglomerado das habitações em palha e de fácil combustão foram rapidamente devoradas pela chamas.
Por ter pouco conhecimento, do terreno e já com muito calo, preocupei-me em vigiar todo o circundante, até a arrancada do local., ordens para partir, espero que os companheiros subam e sou o ultimo a trepar, não me recordo quem comandava, recordo sim um Furriel porte alto franzino, mas muito simpático origem Indiana?!. mas com pouca comunicação, que me desculpe, parecia um pouco nervoso. Neste Grupo de Combate não havia na ocasião um Oficial Miliciano a comandá-lo como seria normal. (A Companhia tinha falta destes activos no quadro de Oficiais)
Seguíamos em coluna e após um km mais ou menos, numa ligeira curva caíamos numa emboscada e somos atacados com granadas e fogo em cima, lógico que conforme a deslocação é sempre a ultima viatura a ser a mais atingida, num salto bem preparado, caio na orla da mata que não sendo muito cerrada, avistava-se, contudo a pouca distância os abrigos do IN, já ferido recuei para debaixo do Unimog, banhado pelo
combustível, que caía sem piedade ,sobre os militares e pelos tiros vindo da mata, rolei mais para a traseira , tendo sido ferido na cabeça, peito e nas mãos , e, já sem munições, pedi ao enfermeiro e grande amigo Cadete para me municiar o que devido á minha gravidade, me aconselhou a manter-me quieto o que desobedeci, gritando venham cá seus filhos da puta, cabrões, estava quente e não sentia dor sentia sim raiva, raiva sem saber porquê. pelo IN ?.sei lá! É uma reação natural do outro lado, de quem vê os seus bens a serem destruídos. Raiva pela situação de uma guerra injusta..! Era necessário a acção de umas bazukadas ou morteiradas, o Cardoso da Bazuka, recordo vê-lo encostado a uma arvore, ferido nas pernas e outros mais, com ais e ais…ainda gritei calem-se car..lh., ouviram-se umas morteiradas e a situação acalmou, fui de opinião que se mandassem umas morteiradas com o destino donde vinham os tiros, só assim é que o IN debandou, não havia rádio nem comunicação, possível, restava a marcha até ao aquartelamento e com o factor sorte, todos ao molho, debaixo de um calor abrasador, chegamos ao Lumeje.
fotos trocadas
O nosso Comandante, ficou desolado com o que viu. Quis saber a situação dos feridos o seu estado, para lhe dar o respectivo encaminhamento, os de maior gravidade, se a memória não me atraiçoa, era o Zé Terras e o Louro, fomos reencaminhados para o Hospital do Luso, não quisemos Heli., fomos de comboio, no vagão da croeira, “mandioca” O comboio dos caminhos de ferro de Benguela fazia Benguela a Teixeira de Sousa. Na estação do Luso esperava-nos uma ambulância, que nos transportou ao hospital, perdi o contacto dos outros camaradas o Cardoso e Ramalhete, que já nos deixou, e outros que não recordo, foram vários os feridos nesta acção.
Já no hospital do Luso, diziam os camaradas que a minha cara parecia uma múmia, o pó o sangue em pasta, o inchaço, obviamente que o arrefecimento deu origem ás dores insuportáveis, eram as mãos, a cabeça e o peito, ali fizeram as primeiras extracções onde permaneci 30 dias, regressei ao aquartelamento sem alta médica.
Após regressar ao quartel logo fui destacado para o Cassai.
Devido á escassez de efectivos, sou solicitado pelo nosso Comandante para engrossar uma secção destacada para o Cassai, com a missão de dar segurança ao chefe da estação, por haver rumores de possíveis ataques…e assim continuar a dar a minha colaboração activa à Compª de Cavª 1535.
Subscrever:
Mensagens (Atom)